Cientistas assinam nota citando ‘estresse elevado’ e ‘sentimentos de desespero’ em relação à crise climática, enquanto milhares de estudantes são esperados para entrar em greve.
Este artigo é uma tradução direta do original, feita com caráter puramente informativo.
Por: Emily Wind (traduzido de: https://www.theguardian.com/australia-news/2023/nov/15/australian-school-kids-strike-climate-change-action-friday-doctors-note)
15 de novembro de 2023
Milhares de estudantes em toda a Austrália entrarão em greve em prol da ação climática nesta sexta-feira, com o apoio de “médicos do clima” que escreveram um atestado especial para a ocasião.
Dois cientistas climáticos australianos escreveram um “Atestado Médico do Clima” que os estudantes podem usar quando deixarem suas canetas, fecharem seus laptops e saírem das aulas em massa nesta semana.
A carta interativa é assinada pelo Prof. David Karoly da Universidade de Melbourne e o Dr. Nick Abel da ANU. Ela afirma que o aluno está “inapto [para a escola] devido a uma preocupação climática grave”, observando seu “estresse elevado” e “sentimentos de desespero” ao ver os impactos das mudanças climáticas.
“É minha recomendação que tirem um dia de folga para protestar por um planeta doente”, conclui a carta.
Uma estudante que está aproveitando a carta é Min Park, de 16 anos. Ela foi apresentada aos impactos das mudanças climáticas em 2019, quando assistiu às primeiras manifestações do “School Strike 4 Climate” pelo noticiário.
Quatro anos depois, agora como estudante do 10º ano, ela está ajudando a liderar a greve desta sexta-feira.
“Estamos nos aproximando do ponto de não retorno e o governo está meio que assistindo a terra morrer e ainda não está fazendo nada”, disse Park. “Eu estava cansada de não poder fazer nada, da falta de ações do governo e … o governo não ser responsabilizado e nós não sermos levados a sério porque somos jovens.
“Eu queria que minha voz fosse ouvida.”
Karoly disse que participou de manifestações contra a guerra do Vietnã na década de 1970, quando estava no ensino médio, e vê as greves pelo clima “como uma batalha semelhante”.
“É uma batalha contra os interesses que querem promover a queima contínua de combustíveis fósseis e a liberação de gases de efeito estufa, que está sendo apoiada pelo governo australiano, e acho que é muito importante que os alunos entendam que a batalha para limitar as mudanças climáticas é uma batalha realmente importante para proporcionar a eles um ambiente e clima melhores no futuro.”
Abel disse que assinar o atestado médico do clima foi um gesto simbólico. Ele esteve envolvido na greve climática escolar de 2019 e disse se sentir “terrível” sabendo que as crianças ainda têm que ir para as ruas e pressionar por ações mais fortes sobre o clima.
“Elas realmente não deveriam ter que fazer isso. É vergonhoso que tenhamos um governo que ainda está se comprometendo com a abertura de novos campos de gás e a extensão de minas de carvão existentes. A Austrália já é o terceiro maior exportador de combustíveis fósseis, portanto, o terceiro maior exportador desse problema”, disse ele.
“O governo tem que lembrar que esses estudantes são eleitores do futuro e qualquer governo que continue abrindo novos campos de gás e permitindo mais extração de carvão merece ser enviado para o deserto político quando esses estudantes começarem a votar.”
Um porta-voz do departamento de educação de estado de New South Wales disse que o atestado médico “não é um certificado médico legítimo” e “não seria aceito pelas escolas”.
“Os alunos devem estar na sala de aula durante um dia letivo”, disse o porta-voz.
Um porta-voz do departamento de educação do estado de Victoria disse que as “expectativas normais da escola se aplicarão” na sexta-feira.
As greves estudantis pelo clima começaram na Austrália em 2018, com um grupo de estudantes da cidade de Castlemaine protestando do lado de fora do escritório do seu representante local do parlamento. Eles foram inspirados pela ativista climática Greta Thunberg, que havia iniciado greves pelo clima fora do parlamento sueco no mesmo ano.
As manifestações de Thunberg logo desencadearam um movimento mundial. Centenas de estudantes australianos entraram em greve em 2018 e o “School Strike 4 Climate” foi oficialmente lançado no ano seguinte.
Estima-se que 300.000 pessoas de mais de 100 cidades e vilarejos em toda a Austrália participaram das greves climáticas de 2019.
A greve desta sexta-feira será a 11ª greve nacional, com o “School Strike 4 Climate” entrando em seu quinto ano.
O ministro da Educação, Jason Clare, afirmou que “estudantes devem estar na escola durante o horário escolar”, em reação tanto à greve climática desta sexta-feira quanto à greve liderada por estudantes pró-Palestina em Melbourne na próxima semana.
“Embora seja ótimo ver estudantes apaixonados e engajados nessa questão, eles devem estar na escola durante o horário escolar”, disse ele ao The Guardian Australia.
Essa posição ecoa os comentários feitos pelo ex-primeiro-ministro Scott Morrison em 2018, que disse: “O que queremos é mais aprendizado nas escolas e menos ativismo nas escolas”.
Park afirmou que esse sentimento é “desrespeitoso”.
“Sinto que agir é muito mais importante, principalmente devido ao fato de que este é o nosso planeta [e] se o governo não vai fazer nada, vamos aprender e vamos agir”, disse ela.
“Não há escola se estivermos em um desastre climático, especialmente se as temperaturas subirem muito… Isso é muito angustiante para os estudantes, o que não é muito bom para a saúde mental deles.”
A porta-voz de educação dos Verdes (partido político), a senadora Penny Allman-Payne, disse que escreveu para Clare, exigindo-o que retirasse os comentários de que as crianças deveriam “ficar na escola”.
A senadora rotulou os comentários dele como “paternalistas” e afirmou que Clare estava “desconectado de como os movimentos estudantis podem ser engajados, informados e poderosos”.
“Eu peço aos estudantes e as famílias que ignorarem a condescendência do ministro e ajam pelo seu direito democrático de protestar por um futuro climático seguro e pela paz”, disse ela.
Na sexta-feira, estudantes de Sydney se reunirão no Belmore Park, perto da Central Station, ao meio-dia, e marcharão até o escritório da ministra do Meio Ambiente, Tanya Plibersek. Essa é uma decisão deliberada, com os estudantes irritados com a aprovação de novos projetos de combustíveis fósseis desde que o governo assumiu há 18 meses.
“Ela é quem deveria estar defendendo o clima e, em vez disso, estamos fazendo isso”, disse Park.
Análises do Australia Institute mostram que as expansões e desenvolvimentos de minas de carvão aprovados até agora este ano devem adicionar quase 150 milhões de toneladas de dióxido de carbono à atmosfera ao longo de suas vidas úteis. Isso é equivalente a quase um terço da poluição climática anual do país.
Greves também estão planejadas para Melbourne, Canberra, Perth, Adelaide e Brisbane, bem como Taree, Byron Bay e Noosa.
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